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Out
19

Desmoronamentos de terra

2010 Entrevista 
 por Roberta Obladen
Todos os anos, algumas cidades brasileiras deparam-se com desmoronamentos, enchentes e catástrofes naturais que, segundo o geólogo e pesquisador do Laboratório de Riscos Ambientais do IPT, Agostinho Tadashi Ogura, poderiam ser prevenidas ou até mesmo minimizadas. Nesta entrevista, o geólogo explica as principais causas desses acidentes geológicos e ensina como o País deveria lidar com essa questão e fiscalizar as áreas consideradas de risco. 

 

Hoje contamos com tecnologia disponível para identificar onde e quando (seguindo avaliações meteorológicas) podem acontecer deslizamentos e desmoronamentos de terra. Temos um mapeamento que identifica com detalhes as regiões de risco no País.

2. Quais fatores podem influenciar decisivamente em desmoronamentos de terra?

O principal fator é a condição natural, se a região é suscetível a eles ou não. O segundo fator são as intervenções humanas que ocorreram ao longo do tempo como aterros, desmatamentos, lixo entulhado, mudanças de escoamento e até cultivo de bananeiras. Esses fatores podem aumentar o risco de possíveis catástrofes em uma região.

3. Muitas pessoas (não somente as carentes) acabam morando em morros. No Rio de Janeiro, por exemplo, há muitos condomínios construídos nessas áreas até em razão da topografia local. Quais critérios os arquitetos/engenheiros devem seguir para evitar construções de risco?

É preciso uma maior qualificação na formação desses profissionais. Muitos não têm uma visão ampla da área em que desejam construir e querem adaptar o terreno à sua obra — justamente o contrário do que deveria ser feito.
Em uma construção em regiões de risco como a Serra do Mar, deveria haver um rígido código de obras que exigisse a atuação de profissionais de várias áreas para evitar possíveis acidentes.
Os arquitetos ou engenheiros que assinam um projeto deveriam ser responsáveis civil e criminalmente caso haja erros nesse trabalho.

4. No que consiste a carta geotécnica?

Carta quer dizer mapa geográfico de um espaço. O termo geotécnico refere-se à localização de terrenos sujeitos ou não a problemas geológicos e geotécnicos como erosão, deslizamentos e enchentes. Estamos fazendo um grande esforço para que a carta geotécnica seja ferramenta fundamental na formulação dos planos diretores * das cidades.
*Plano diretor — é o plano que orienta o crescimento de uma cidade.

5. As prefeituras têm mapeado os terrenos ou áreas de risco? Que providências deveriam ser tomadas?

A maior parte dos municípios que apresentam um histórico de catástrofes tem realizado um mapeamento das regiões de risco. O problema é que eles precisam seguir algumas etapas. São estabelecidas todas as medidas estruturais, mas, no momento da execução do projeto, falta recurso financeiro. O Brasil é um país extremamente pobre e precário nas condições básicas de sobrevivência do ser humano como segurança, saúde e moradia. Investir em estrutura e em ações preventivas tem um custo infinitamente mais baixo do que socorrer catástrofes. Nós contamos com capacidade técnica para isso, basta investir.

6. Que medidas preventivas as prefeituras tomam e deveriam continuar tomando para, pelo menos, evitar algumas tragédias?

Há a necessidade de um rigor ainda maior na ocupação das áreas consideradas proibidas. É cada vez maior o número de moradores em assentamentos e em áreas de risco. Compete às autoridades municipais fazer o controle da ocupação adequada do solo, evitando, assim, essas catástrofes.

7. Muitas das estradas brasileiras são antigas e sofrem constantes problemas de deslizamentos de terra. O que pode ser feito, também nas rodovias, para evitar futuras tragédias?

Não temos como comparar uma construção antiga e tradicional como a rodovia Santos-Rio com a segunda pista da Imigrantes. Esta última priorizou túneis e viadutos, além de seguir fortes restrições ambientais, resultando em uma concepção muito mais segura. No caso da Santos-Rio, assim como em diversas estradas brasileiras, não basta construir, é preciso fazer a manutenção e constantes recuperações, evitando, assim, situações perigosas.

8. Há, no Brasil, exemplos de ações preventivas de sucesso?

Há 20 anos, o Estado de São Paulo conta com um plano preventivo para evitar desmoronamentos. Nossa principal meta é retirar as pessoas das áreas de risco antes que aconteça algum deslizamento. Já presenciei famílias que não queriam sair do local, mas que por insistência da defesa civil conseguiram salvar suas vidas. É um plano que funciona, uma vez que a autoridade pública consegue guardar a integridade física de milhares de pessoas. Além disso, o Estado de São Paulo está promovendo o Programa de Recuperação Socioambiental da Serra do Mar, na região de Cubatão. Moradores serão removidos para áreas habitacionais e ocorrerá uma recomposição florestal em toda a área.
Temos bons exemplos como o Rio de Janeiro, Recife e Olinda que estão investindo em melhorias nos morros e nas favelas. Estão construindo áreas habitacionais e promovendo a reurbanização em regiões menos críticas.

9. Moradores de áreas de risco têm condições de perceber possíveis deslizamentos?

Sim.  Nessas áreas, começam a apontar sinais nas encostas, como trincas e rachaduras, postes e árvores tombados, pequenos deslizamentos. Mas é preciso consultar pessoas que entendam esses sinais para que saibam o que fazer. É aí que entra o trabalho feito pela prefeitura de São Paulo, que mapeou todas essas áreas e conta com equipes que fazem constantes vistorias nos locais mais críticos.

10. Que desafios a arquitetura e a engenharia brasileira enfrentariam para evitar esses problemas geológicos?

Acredito que os profissionais dessas áreas contam com dois grandes desafios: utilizar seus conhecimentos técnicos da melhor maneira possível e, principalmente, ser mais cuidadosos com as questões éticas. Devem realmente ser responsáveis pelas construções que projetam e executam.

11. Com relação às enchentes que assolam o País, principalmente nesta época do ano, quais seriam as soluções?

Cada caso precisa ser minuciosamente estudado. É necessário fazer um estudo sobre as bacias hidrográficas que permeiam cada região e as intervenções humanas que forem ocorrendo ao longo dela.
Nas grandes cidades, a ocupação ao longo dos córregos aumenta a vulnerabilidade a enchentes e deslizamentos. Nesse caso, voltamos ao problema apresentado no início da entrevista. Esses assentamentos são fruto de uma ausência de controle adequado do uso do solo e isso gera as catástrofes que acompanhamos todos os anos.

Fonte: Educacional
Foto Crédito: Gabriel Lopes/AFP.

1. Em determinadas épocas do ano, o Brasil, principalmente a região da Serra do Mar, sofre muito com as chuvas, desmoronamentos de terra e enchentes. Essas catástrofes poderiam ser previstas se levarmos em consideração a topografia brasileira?

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