Palmito não é Areca
Léa Corrêa Pinto*
O saboroso palmito-juçara, Euterpe edulis , é hoje espécie rara, devido seu valor econômico e ao amplo extrativismo, uma vez que não há rebrota após o corte. A espécie Euterpe edulis é um dos produtos mais explorados na Floresta Atlântica , REIS e GUERRA,1999), porém ainda perdura intensamente aqui na Bacia do Caçador, Serra do Cafezal, Régis Bittencourt, Br-116/SP.
É de conhecimento geral no sertão, a dificuldade do replantio do palmito-juçara lograr sucesso, ao contrário da conhecida areca-bambu, Dypsis lutescens , a palmeira de jardim, embora ambas da família Arecaceae (Palmae).
Os sertanejos tem bom êxito no replante do palmito-juçara com mudas pequenas de um palmo no máximo, trazendo-as em torrão, para o local do plantio. Além de ter “mão boa” para plantar, precisa depositar a muda na cova, juntar a terra e com as costas do enxadão ou outra ferramenta calcar bem, o entorno da muda para fixa-la no solo. O pessoal da região também sabe que as sementes germinam melhor na grota mas que o palmiteiro jovem prefere as encostas.
Aqui no Vale do Ribeirão do Caçador está ocorrendo, o replante do palmiteiro Euterpe edulis Mart , em torrões, através dos programas, de reposição florestal, com mudas de até 1, 2 m aproximadamente.
As palmeiras em geral além dos cuidados já mencionados, suportam transplantes, de 1m à fase adulta, já com vários metros de altura, dependendo do tamanho do torrão e de seu prévio preparo, utilizando o processo de “sangramento”, como ocorre corriqueiramente em paisagismos realizados em parques e jardins de prédios, casas , avenidas etc.
O processo de arrancar a muda do palmito-juçara sem o torrão e introduzir as raízes num saquinho plástico para posterior replante, o percentual de “pegamento” é praticamente zero. Nós do mato, que tanto apreciamos a palmeira Juçara, já sabemos disto por conhecimento tradicional adquirido, e, ficamos satisfeitos, que o programa de reposição florestal aqui na Serra do Cafezal, Br-116, Bacia do Caçador assim iniciado, tenha sido descartado e trocado pelo sistema de torrão.
As mudinhas do palmiteiro nos dão sempre muita esperança, pois demoram para secar. São como as folhas do Domingo de Palmas.
Na Bacia do Caçador/ Setor ITEREI, semeamos o palmito-juçara há algumas décadas, em embalagens realizadas com papel jornal, formatadas em garrafas, na modalidade utilizada dantes na Alta Paulista para mudas de café, posteriormente a muda do palmito-juçara crescida era plantada no local definitivo, sempre sob a sombra de árvores maiores. Mesmo assim, muitas não vingavam. A semeadura na sombra do palmito-juçara por lançamento na própria serrapilheira, com as sementes já preparadas para a aceleração da germinação por sua vez sempre deu resultados muito satisfatórios.
Noite e dia os pequenos e grandes herbívoros da mata, bem como Lua e Luanni, 2 éguas chucras ai nascidas, percorrem os vales do Ribeirão do Caçador, e também o da parada dos antigos tropeiros. Os bichos são curiosos, muitas vezes deixam rastros ou são avistados, doutras, não. Eventualmente pastam suas folhas, contudo sem prejudicar fatalmente as mudas do palmito-juçara. Agora em março 2013 o Vale do Caçador está repleto de goiabas e araçás maduros, guloseimas muito procuradas pelos herbívoros. Para evitar este tipo, de pastagem, ou o pisoteio das mudas do palmito-juçara por um animal mais pesado, seja uma anta ou um veado, o sertanejo sabe que para maior possibilidade de êxito das mudas do palmito-juçara,. tem de fazer uma cerquinha em volta de cada uma, ou na viabilidade em volta de várias delas “ dá um trabalhico, mais, é o certo né..”.
Por outro lado, as mudas de palmito-juçara que tombam ou saem da cova, só ocorre quando não estão plantadas, ou seja, não foram devidamente calcadas no solo.
É sempre profícuo, mesclar as habilidades e o conhecimento tradicional ao acadêmico e ter na equipe para cada técnico, seja nos programas mitigatórios da flora como nos da fauna, no mínimo 4 matutos aqui da região, conhecedores das belas matas e acostumados às longas caminhadas adentro, com serpentes, pernilongos gigantes, mosquitos etc., e já habituados ao nosso clima quente e chuvoso e aos aclives e declives próprios da região serrana.
Além disto, adotar um sistema de incentivo, por equipe ou por indivíduo da equipe, envolvidos nos Programas de Mitigação, proporcional as unidades de espécies vegetais raras coletadas, e por unidade replantada bem sucedida, sem dúvida ampliará em muito o sucesso dos programas de mitigação ambiental, determinados pela autarquia competente à concessionária da rodovia.
Não podemos esquecer que a bicharada, adora os ingazeiros e seus frutos, seja o ferradura, o preto ou o mirim aqui nativos, todos com exuberante e magnífica florada, espécies que se inclusas nos programas ambientais de mitigação da Bacia do Caçador também poderão ser apreciadas pelos futuros usuários da Rodovia Régis Bittencourt, aqui na Serra do Cafezal, Br-116, São Paulo.
* Léa Corrêa Pinto
- ecologista, pedagoga , moradora tradicional da Serra do Cafezal
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