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Set
13

ENERGIA NUCLEAR| Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares

Hoje, quinta-feira 13/09/2012, a tragédia com o césio 137 em Goiânia completa 25 anos. No acidente, milhares de pessoas foram contaminadas pela radiação. A Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares anuncia nessa data que vai acionar o governo, com base na Lei de Acesso à Informação, para saber os riscos da radioatividade nos depósitos de lixo atômico e os planos de segurança em caso de acidente. O anúncio será feito durante entrevista coletiva às 10h30, na Sala Crisantempo, em São Paulo.
Participarão do evento Pedro Torres, coordenador da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, Maurício Piragino, diretor da Escola de Governo de SP, Ademar Sato, monge budista de Brasilia que esteve mais de uma vez em Fukushima depois do acidente nuclear, o professor Célio Berman, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, e Fernanda Giannasi, engenheira de Saúde do Trabalhador do Ministério do Trabalho. A mediação será feita por Chico Whitaker, ativista e um dos animadores da Coalizão. Estarão presentes também ex-trabalhadores da Nuclemon, empresa que mantém um depósito de lixo radioativo na zona sul da capital paulista, além de outras pessoas que atuam contra os efeitos da radiação. (Fonte:http://www.brasilcontrausinanuclear.com.br)
Veja abaixo a Reportagem da TV Anhanguera (Globo) que abre a série sobre os 25 anos do césio-137
Mãe da menina símbolo da tragédia com o césio-137 diz se sentir culpada
Pela primeira vez, Lourdes das Neves fala sobre sentimento de culpa.
Criança ingeriu partículas de pó de césio, acidentalmente, e foi a 1ª vítima.
por  Versanna Carvalho do G1 GO
A dona de casa Lourdes das Neves Ferreira, mãe da menina Leide das Neves Ferreira, de 6 anos, que morreu em 23 de outubro de 1987, sofre com a falta da filha, quase 25 anos depois da sua morte. Ela conta que se sente culpada pela morte da menina, a primeira vítima do acidente com o césio-137 em Goiânia , e uma das quatro mortes oficiais, segundo os governos estadual e federal. O sofrimento da garotinha que se encantou com o brilho azul emitido pelo césio se tornou o símbolo da tragédia. “Fica passando um filme na minha cabeça. São 25 anos de sofrimento, de dor, de tristeza e de angústia. Eu me arrependo e cobro de mim mesma. Se eu não tivesse ido tomar banho, talvez ela não tivesse ingerido [partículas de pó do césio]”, afirma Lourdes.
Tudo começou com a retirada de um equipamento de radioterapia para o tratamento de câncer. O aparelho foi esquecido dentro de um prédio abandonado, onde funcionava uma clínica de radiologia, no Centro de Goiânia. Levada para um ferro-velho, a peça foi desmontada a marretadas. A cena foi reproduzida várias vezes em filmes e programas de TV.
O objetivo do dono do ferro-velho era aproveitar o metal, mas a descoberta de um pó dentro do equipamento, que brilhava à noite, chamou a atenção de muita gente, inclusive de crianças. A situação de Leide foi ainda pior porque, ao fazer um lanche depois de brincar com a novidade, acabou ingerindo, acidentalmente, partículas do pó misturadas ao alimento. Isso aconteceu longe dos olhos da mãe.
As mortes ocorreram poucas semanas depois da descoberta do que passou a ser considerado o maior acidente radiológico do mundo — com uma substância radioativa usada em hospitais. Leide, a tia dela, Maria Gabriela, e dois funcionários do ferro-velho foram as vítimas que não suportaram os efeitos da radioatividade.
Os corpos das quatro primeiras vítimas do césio-137 estão enterrados em um cemitério municipal de Goiânia, o Cemitério Parque. Os túmulos têm mais que o dobro do tamanho dos outros. Debaixo do mármore, existem toneladas de concreto. Cada caixão pesava cerca de quinhentos quilos. Tudo isso para bloquear a emissão de material radioativo.
Os túmulos estão em um canto do cemitério, em um local bastante tranquilo, bem diferente daquele dia do enterro, quando uma multidão protestava contra a decisão de enterrá-los em um cemitério comum. “Eu estava dopada com remédios, mas vi tudo. As pessoas jogavam pedra, jogando pedaço de meio-fio”, recorda-se Lourdes.
Apesar do tumulto, prevaleceu a vontade da maioria e o enterro não mudou de lugar. Se tivesse sobrevivido, Leide estaria hoje com 31 anos de idade. “Uma parte do meu coração e da minha vida se foi com ela. A forma como tudo aconteceu foi uma coisa louca, dolorosa. Só eu mesma para saber. Não desejo que isso aconteça com ninguém”, conta a mãe. Ela diz ainda que não consegue passar um único dia sem se lembrar da filha e da tragédia vivida por sua família. “Não tem como não lembrar” (assista abaixo à entrevista na íntegra).
Lourdes também perdeu o marido na tragédia. Ivo Alves Ferreira morreu 16 anos depois do acidente radioativo. Ele carregava o arrependimento por ter levado para casa o pó do césio para a filha brincar. O irmão de Ivo, Devair Alves Ferreira, que era dono do ferro-velho onde a peça foi aberta, morreu sete anos depois da tragédia, em 1994. Na época, quando ainda passava pela descontaminação, ele falou sobre a tragédia provocada pela luz hipnotizante. “Eu só me sinto triste porque de uma forma ou de outra eu prejudiquei toda a minha família”, disse Devair à TV Globo, em outubro de 2007.
Um dos irmãos de Devair e Ivo e atual presidente da Associação das Vítimas do Césio (AVCésio), Odesson Alves Ferreira cita uma frase dita por Devair que marca o episódio: “Eu me apaixonei pelo brilho da morte”.
Na opinião de Odesson, os irmãos Devair e Ivo sobreviveram à tragédia, mas não conseguiram superá-la. “Os dois entraram em um processo de depressão. O Devair se sentia responsável por ter colocado toda a família naquela situação. O Devair se embrenhou pelo caminho dos vícios. O da bebida, principalmente”, lamenta, em entrevista ao G1.
Já Ivo, afirma Odesson, se culpava por ter levado o pó de césio para casa e deixado a filha brincar com ele. “O Ivo fumava seis maços de cigarro por dia. É uma maneira que eles [Ivo e Devair] encontraram de se suicidar. Eles viam que estavam morrendo lentamente e continuavam fazendo. Tentamos muito tirar o vício dos dois, mas não conseguimos. Eles achavam que tinha que ser daquele jeito e acabou sendo. Eles morreram muito jovens. Devair morreu em 1994, aos 42 anos, e Ivo, em 2003, aos 54”, conta Odesson.
Da mesma forma que muitas das pessoas que manusearam o césio, Odesson, que só ficou com o pó do césio por cerca de dois minutos, carrega na mão sinais de contato com o material. “Além da palma da mão, que eu perdi [mostra pele mais escura, resultado de um enxerto com parte da pele da barriga], perdi parte de um dedo e outro ficou atrofiado”, mostra.
Maria Abadia Ferreira — mãe de Odesson, Devair e Ivo — viu a família inteira ser contaminada, inclusive ela. “Eu não gosto nem de lembrar. É tanta coisa, é muito duro. A minha família foi a mais atingida”, lamenta.
Odesson conta que até hoje a família não se refez completamente. “Uma coisa que dói muito na gente é o afastamento, principalmente da família. A nossa família era muito próxima, gostava de se reunir para fazer um almoço, um churrasco. Hoje é muito ruim. As pessoas não podem mais juntar porque o assunto fica desagradável. A gente não consegue fazer um almoço de família sem tocar no assunto. E isso dói muito”, desabafa.
Pastoral Fé e Política
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A partir de Jesus Cristo, em busca do bem comum

divulgado por Lea Correa Pinto/ fonte rede justiça ambiental