A MAIS BELA DAS FEIRAS!
Roberto Carlos de Oliveira 1
No último final de semana, aconteceu, a Décima Edição da Feira de
Sementes Nativas e Crioulas e de Produtos Agroecológicos na pequena cidade
de Juti, em Mato Grosso do Sul, com o tema “Cuide da Mãe-Terra que gera a
vida!”, evento que teve como principal objetivo “Resgatar e valorizar os produtos
sadios -sem agrotóxicos- assim como da própria cultura camponesa”.
Há dez anos é realizada a Feira, que idealizada pela Irmã Lucinda Moretti, junto
com as Irmãs de São José de Chamberry, agentes da Comissão Pastoral da
Terra – CPT, e apoiadas pelas agricultoras e agricultores familiares e pelas
famílias da cidade que recebem e oferecem alojamento aos visitantes da feira.
Este ano, em sua 10ª edição, também celebramos a presença espiritual da Irmã
Lucinda, uma vez que é a primeira edição da feira sem a sua presença física,
em virtude do seu falecimento em 2013, após sofrer um grave acidente
automobilístico, a serviço de uma agricultura pautada no uso de sementes
crioulas e com o objetivo de ajudar na melhoria da vida de muitas famílias e,
creio ser este um dos grandes motivos que fizeram com que muitas pessoas
viessem à Feira de Juti, algumas pela primeira vez, que certamente vieram para
celebrar e homenagear a Irmã Lucinda. Sua presença era marcante em todos os
lugares, em cada cantinho da feira ou dos arredores, sabíamos que Lucinda, por
ali havia caminhado nestes anos todos. Esperávamos vê-la surgindo de algum
ponto, cumprimentando alguém, dando uma informação ou mesmo trazendo
pratos e talheres para algum esquecido. Assim era Irmã Lucinda!
A Feira de Juti é uma festa dos camponeses/as, há momentos de acolhida,
celebração, troca de sementes e experiências, de saberes e sonhos, rever amigos
e fazer novas amizades, há momentos de obter conhecimentos sobre técnicas de
cultivos e produção, nas oficinas e minicursos ofertados durante os dias da feira.
O que eu presenciei nesta 10ª edição da Feira de Juti foi bastante marcante, o
encontro de velhos amigos, de muitas lutas, compartilhando este espaço de festa,
1 Acadêmico de Geografia na Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul – UEMS; Agente da Comissão
Pastoral da Terra – CPTMS.
onde se pode conversar amenidades e brincadeiras e ao mesmo tempo articular
projetos e futuras atividades, sempre voltadas à produção de uma alimentação
saudável e sem veneno..
Outro momento marcante da feira foi a fartura de alimentos oferecidos aos
visitantes, no café da manhã, no almoço, na janta, boa parte dos alimentos vem
dos camponeses/as e ou em forma doação, até mesmo comprando dos
produtores locais como um meio de incentivar que continuem produzindo. Não
podemos deixar de falar das pessoas que doam seu tempo e suas mãos ao
serviço, seja para cozinhar, limpar, servir, montar, informar, e em muitos outros
momentos que, sem elas não aconteceriam ou ficariam prejudicados. Homens e
mulheres comprometidos/as em servir e ajudar. É um sentimento solidário que
envolve a todos e todas, inclusive a participação de muitos acadêmicos/as de
diferentes cursos voltados à agricultura familiar, contribuindo para a realização e
sucesso desta 10ª edição da Feira de Juti/MS.
Para o pesquisador da Embrapa Pantanal Aurélio Vinicius Borsato, “a feira é
sempre uma vitrine alternativa para a produção com sementes crioulas e a
defesa de um modelo de agricultura baseado na sustentabilidade, tendo em conta
a dimensão social, política, ambiental, cultural, organizativa e econômica”,
acrescentando ainda que, “ a feira foi uma realização da Embrapa Agropecuária
Oeste/ Dourados –MS, da APOMS- Associação de Produtores Orgânicos de Mato
Grosso do Sul, CPT, Instituto Cerrado Guarani, UFGD e contou com inúmeros
parceiros, além da participação.efetiva de toda a população.
E, todas estas singularidades, somadas a participação de, aproximadamente
750 pessoas inscritas para as oficinas e minicursos é que torna a 10ª Feira das
Sementes Nativas e Crioulas e de Produtos Agroecológicos de Juti, a mais bela
das feiras.